segunda-feira, 12 de julho de 2010

"A oposição ajuda o País e o Piauí", diz senador Mão Santa

O senador Mão Santa (PSC-PI) saiu do PMDB em 2009 porque fazia oposição ao governo do PT em nível nacional e estadual, sem o apoio do partido. Seguiu para o pequeno PSC e, para sua surpresa, o partido, recentemente, resolveu apoiar a candidata do PT, a ex-ministra Dilma Rousseff, à Presidência da República.

Mesmo assim, considerou positiva, para ele a decisão do seu novo partido. “Foi até bom porque viram minha coerência, eu continuo na mesma linha”, diz o senado, que continuará fazendo oposição ao PT. Para Mão Santa, a oposição é necessária para a democracia e, em sua opinião, o fato de ser oposição ao governo, mesmo sendo do Piauí, não atrapalhe o estado. Muito pelo contrário. “Quando faço uma crítica, eu estou é ajudando o Piauí e o Brasil, pois o governo vê os problemas” e daí, em tese, tenta resolvê-los.
Mão Santa é hoje um dos maiores críticos do Partido dos Trabalhadores, a quem ele próprio ajudou a chegar ao poder, em 2002. “Eu me iludi como todo mundo. Eu pensei que eles eram mestres. Ninguém está livre de ser enganado”. Para Mão Santa, o partido fez o pior governo da história do Piauí.
Participaram da sabatina com o senador Mão Santa (PSC) os jornalistas Cícero Portela, Nildene Mineiro, Elizângela Carvalho e Mariana Karene.
O deputado federal Ciro Nogueira (PP), ao se lançar como candidato ao Senado, disse que o Piauí não pode se dar ao luxo de ter um senador que não ajude o estado. Como o senhor recebe essa crítica?
Para mim, não é [crítica]. Porque o Piauí se deu ao luxo de ter o senador mais importante da história da República. Essa é a avaliação do país. Várias vezes eu representei o país, já fui entrevistado em Madrid (Espanha), na Suíça, em televisão. Isso não me pega. Eu fui menino puxado por Petrônio Portela, Chagas Rodrigues, Wall Ferraz, eu sou de Dirceu Arcoverde. Eu sou a síntese da história, da decência, da luta. O que eu tenho dado é grandeza ao Piauí. Isso (crítica de Ciro) não é comigo. Agora, oposição, eu sou. E eu tenho que ensinar a ele e a todos. É meu dever. Rui Barbosa, que é o símbolo maior, ele que viveu no Império. Fez a Lei Áurea e a princesa sancionou. E logo depois disso nasceu a República. Ele fez a primeira Constituição, foi o primeiro ministro da República. Então, atentai bem, foi governo, foi ministro. O Floriano Peixoto teve perseguição. Mas o Rui Barbosa, que é o símbolo maior, passou 32 anos no Senado, eu estou com 7 anos e meio e ganhei o país, ganhei o mundo, representando com grandeza. Hoje, dou mais autógrafo do que o [cantor] Roberto Carlos. Eu cheguei na Paraíba e tinha uma faixa lá. E o Arthur Vigílio viu e ele comentou “Mão Santa, o xodó do Brasil”. Eu recebi os maiores prêmios que existem. Hoje eu sou o motivo de orgulho. Atentai bem. Rui Barbosa, que é o símbolo maior de todos nós, foi governo e foi oposição depois. Teve até que fugir porque foi perseguido pelo Marechal, foi para Buenos Aires, depois Inglaterra. A oposição é necessária. Todo brasileiro sabe que ele contribuiu para a democracia. Quem foi que lutou. O salário mínimo era 70 dólares. Quem foi o relator? Que acompanhou. Aí foram me convidar para ser o orador de todas suas leis. Olha, eu era São Tomé, confess o, pois [o salário-mínimo] está quase 300 dólares. Essa foi a maior obra do Brasil. Eu dei essa contribuição para o nosso presidente. É porque a ignorância é audaciosa. O grande problema do Brasil foi a concentração de renda. Então, a primeira distribuição de renda foi o aumento do salário mínimo. E nós tivemos lutando na oposição, forçando o governo a aumentar. Era o país do PT. E eu sendo relator. Isso foi tão fantástico. Atentaibem. O próprio Deus disse: comerá o pão com o suor do teu rosto. É uma a mensagem é valorizar o trabalho. Então, essa luta, eu ajudei o Brasil, no governo do Luiz Inácio (Lula), a enfrentar a crise econômica. Os assalariados passaram a consumir, a manter o equilíbrio através do consumo interno. Se há uma pessoa que tem satisfação no cumprimento da missão, sou eu. Esse país está aí porque eu fui o senador do Piauí, o primeiro que se debruçou, o primeiro que apresentou um pronunciamento dizendo que nos tínhamos 76 impostos. Isso significava, não cabia mais imposto. E o brasileiro e a brasileira, trabalha 5 meses do ano por governo. 40% do que se produz é dado para o governo, que não devolve bem em educação, em saúde, em segurança. Então, a TV Globo, que é muito inteligente, dez dias depois que eu fiz o pronunciamento, fez uma reportagem dizendo que o brasileiro trabalha 150 dias por ano para pagar imposto.
Nós que convencemos que o governo está extorquindo exaurindo demais o povo. Então, a oposição é necessária para isso. Nem tudo está bom. Quando eu denuncio a violência, eu estou ajudando o Brasil todo e Piauí todo. O senhor tem uma postura antipetista, mas foi sob seus braços que o PT veio ao governo do Piauí. Por que essa mudança radical de postura?
Eu me iludi como todo mundo. Eu pensei que eles eram mestres. Ninguém está livre de ser enganado. Mas, eu, muito rápido, fiz o diagnóstico. Eu vi que estavam mantendo um critério de mentira, corrupção e incompetência. Está aí. O Piauí está aí um caos. Fiquei na oposição para defender o povo. Em defesa do Piauí. Todas minhas emendas são liberadas. Todas, eu sou suficientemente piauiense inteligente para saber o jogo ali e dominar. Era do PMDB. Eu sou querido lá. O problema é aqui. Mas seu partido, o PSC, agora apoia a ministra Dilma para presidente. Foi por isso que eu saí do PMDB. Toda situação, o homem é o homem em suas circunstâncias, Você tem que analisar, foi até bom (o PSC apoiar a Dilma) porque viram minha coerência, eu continuo na mesma linha. Esperando com esperança daquilo que nós oferecemos ao Brasil. A democracia, alternância de poder. Todos os índices do Piauí caíram depois que eu deixei o governo. Vocês viram a educação. O governador mantinha os órgãos principais escondendo tapar o sol com a peneira do que esconder a verdade. O Piauí teve o pior índice do Ideb no ensino médio. Foi o pior governo da história do Piauí.
O senhor acredita que a verticalização é uma deficiência ou é uma vantagem na política?
Nós precisamos de uma reforma política. Vi nascer na política um homem muito inteligente, o [ex-senador Jorge] Bornhausen, do DEM, fez uma minirreforma. Se não fosse o Senado, a gente estava igual a Venezuela. Não pense que os aloprados não queriam (ter o terceiro mandato). Para ter o terceiro mandato, tinha que mudar a constituição, 2/3 (dos votos do Senado) e o governo não tem 2/3. Eles sabiam. Eles não iam mandar. E fechar o senado seria um apocalipse. Tinha que ter era uma reforma política. Inteligente. Tem partido que nem sei o nome, nem a sigla. Tem que limitar o número de partidos. Primeiro tem que ter uma reforma política, limitando esses partidos.
Este ano, foi aprovada a lei da Ficha Limpa. O que o senhor tem a dizer sobre isso, já que foi um governador que teve o mandato cassado?
Fui. E é a história mais vergonhosa da Justiça e a mais honrosa para mim. Me tiraram do poder. A Justiça tem seus interesses....Eu lembro do filho de Deus, quando subiu à montanha e disse “Bemaventurados os que têm fome e sede de Justiça”. Mas a lei é feita por homens. Disseram que ganhei as eleições, dei luz [para o povo]. Tinha um programa social, o Luz Santa, uma coisa bonita. Dava luz para aqueles pobrezinhos, que gastavam apenas 30 KW. Nesse aso, o serviço social pagava. Água também. Eu nunca cortei água de pobre e nem cortaria. Como é que um pobre, desempregado, iria pagar uma conta de R$ 400? Não poderia pagar. O rico vai no banco parcela a dívida em 10 anos. Eu mandava ele (o pobre) parcelar, dava R$ 2,00 (por mês). Eu dei comida. Por isso sou o político mais importante do país. Minha mulher dizia que era vergonhoso, ao meio-dia, quando nós chegamos aqui, batia um pobre na nossa porta e dizia “Me dê um prato de comida, pelo amor de Deus”. E aí tiramos os policiais, que era proteger o governador, e fizemos o primeiro restaurante popular do Brasil, o Sopa na Mão (O senador fala de um estabelecimento ao lado do Palácio de Karnak que era uma das sedes da Polícia Militar. Ele fechou o estabelecimento e abriu um restaurante no local). Aí disseram que foi propaganda. Mas ninguém prova. Fiz 136 [restaurantes populares] no Piauí. Ninguém prova que esse restaurante pediu título, pediu voto. E dizem que dei remédio. E dei, eu era médico, se eu dava remédio no meu consultório, como é que governador não ia dar remédio para pobre? Então, isso,usando isso, é que eu tinha ganhado a eleição. Foi bom terem me tirado do governo, porque disseram que era poder. Saí com Adalgisa, sozinho, sem o poder e povo do Piauí me elegeu Senador da República. Foi tão imoral (a cassação de seu mandato) que não foi nem publicado nos acórdãos. Porque o presidente do STF ia mandar eu voltar. Agora, eu sou cirurgião. Onde você for você vai levar sua profissão. Eu digo. Se eu brigo agora, eu não disputo eleição. Então eu vou aguentar calado e o povo dá a resposta. Eu saí sem nenhum poder e tive quase 700 mil votos. Quem tomou posse (como governador, quando Mão Santa foi cassado), foi o doutor Hugo Napoleão. Eu não tenho rancor dele. Quero dizer o seguinte. Você já viu ele dizer que eu, o Mao Santa, fez uma corrupção? Eu fui vasculhado. Porque político tem pessoas decentes. Eu não faço por mim não. Eu sou candidato. Eu vou deixar o Piauí na mão dos aloprados? Por isso sou candidato. Vocês estão olhando para o neto do homem mais rico desse
estado. Eu fui médico, senador, prefeito, governador. Olhe o meu patrimônio e olhe o desses aloprados aí (ele se refere aos petistas que assumiram o PT em nível estadual e nacional). Que se identificavam com um anel de tucum. Hoje, é uma Hilux e o melhor apartamento da cidade. Eu represento a luta, a dignidade,
a vergonha do povo do Piauí. E estou senador, não é o momento. Eu represento essa bela história. Eu que sou neto do homem mais rico nesse estado e que não deixei de trabalhar um dia, medico vitorioso, cirurgião vitorioso, governador vitorioso, e olhe o meu patrimônio e olhe o desses aloprados.
O Sr. se considera um político populista?
Eu me considero um político extraordinário.
O senhor saiu de um partido (PMDB) que tinha grandes estruturas no interior. Agora, o senhor vai fazer campanha através de um partido menor, o PSC. Como o senhor pretende se eleger?
Na América do Sul, a população não se liga em partidos, mas em líderes. E eu sou um líder do PSC, que está crescendo no Piauí. Além disso, nas pesquisas feitas pelos outros partidos, eu estou sempre em segundo lugar.
Fonte: Jornal O Dia