O Brasil não está imune às conturbações políticas que ocorrem na
Europa e deve se preparar para a saída da Grécia da Zona do Euro e a
possível derrota de Angela Merkel, chanceler da Alemanha, nas eleições
de Outubro. É o que afirma o economista Antonio Delfim Netto,
ex-ministro da Fazenda e da Agricultura, em entrevista exclusiva ao Jornal do Brasil.
Em
meio as notícias de instabilidade política nos dois países, as bolsas
de todo o mundo despencaram nesta segunda-feira (14), com o Ibovespa
registrando forte queda de 3,21%. As principais empresas que compõem o
índice nacional também tiveram baixas acentuadas. Os papéis da Vale
(VALE5) caíram 1,68%, cotados em R$ 37,36. As ações da Petrobras (PETR4)
terminaram negativas em 2,22% em R$ 18,90.
Para Delfim Neto, o Brasil precisa estar atento à crise econômica
mundial, que deverá se aprofundar nos próximos meses com o desenrolar
político na Alemanha e na Grécia.
"Este cenário (de crise) vem se
formando e piorando há algum tempo, é um processo esperado. O Brasil não
está imune e o governo, as pessoas e o mercado precisam se preparar.
Estamos um pouco mais fortes, mas vamos sofrer, o mundo vai murchar, as
perspectivas estão diminuindo", afirma o ex-ministro.
A derrota
de Nicolas Sarkozy na França é um indício da insatisfação dos europeus
em relação a crise econômica. O ex-presidente era o maior aliado da
Alemanha e defensor das políticas de austeridade implementadas no
continente.
As notícias desanimadoras da Grécia, que no último domingo fracassou
em conseguir uma união nacional para a formação do parlamento, e agora
ameaça deixar a Zona do Euro, também deixaram os investidores cautelosos
e foi um dos principais motivos para a queda do Ibovespa e das
principais bolsas mundiais.
"A Grécia vai ser convidada a sair da
Zona do Euro muito brevemente e enfrentará um cenário adverso. Mas se
continuar respeitando as medidas de austeridade o país sofrerá ainda
mais", afirma o ex-ministro.
Alemanha
A décima
derrota da União Democrata-Cristã (CDU) nas eleições regionais, desta
vez em Renânia do Norte-Vestfália, enfraqueceu Angela Merkel e sinalizou
uma provável troca de poder no comando da Alemanha nas eleições de
Outubro. A notícia também repercutiu nos mercados financeiros. O DAX 30,
da Bolsa de Frankfurt, fechou o pregão em forte queda de 1,94%.
Junto
com os franceses que, insatisfeitos com a austeridade econômica do
continente, colocaram a esquerda no poder depois de 17 anos, a oposição
alemã também acredita que as recentes derrotas do CDU refletem um "voto
contra" as políticas europeias da chanceler.
"Estes dramas, como
disse, já estão anunciados. Todos os governos que participaram e estão
vivendo estas políticas austeras não estão conseguindo formar governos,
se reeleger, conseguir aliados, pois a crise piora a cada dia", afirma
Neto.
O ex-ministro destaca que o mercado financeiro não pode ser
"abandonado a si mesmo", pois voltará a agir de forma irresponsável,
principal razão para o desenrolar da atual crise, que começou depois da
revelação de uma fraude em 2008.
"Não adianta fazer estes
ajustes, estas desvalorizações não resolverão o problema, estas medidas
são todas anestésicas, paliativas. Se o mercado voltar a ter a
independência e a liberdade que tinha, a crise será ainda pior. E já
estamos nos aproximando nesta direção", conclui Delfim.
Fonte: Jornal do Brasil/ Carolina Mazzi