Noite de quarta-feira e de duelo decisivo na
Libertadores. O Corinthians joga melhor e bate o Peixe em plena Vila
Belmiro por 1 a 0. Neymar é questionado por um repórter ainda na beira
do gramado sobre o jogo e me sai com essa: 'pelo que eu entendo de
futebol, só jogou um time o jogo inteiro. O Emerson acertou um belo
chute e fez o gol do jogo'.
Mais do que pouco poder de leitura sobre o que foi a partida, o
craque do Peixe dá sinais da típica arrogância de quem sempre teve tudo
que quis. Ao contrário do arquétipo do jogador pobre que consegue subir
na vida graças ao esporte, Neymar sempre teve uma situação bem
confortável por conta do seu talento natural para o futebol.
Ele sempre foi criado para ser a joia do time do Santos. O que de
fato é. Contudo, tanto zelo fez de Neymar alguém que vive uma realidade
paralela que lhe é sempre favorável. Como um adolescente mimado criado
em um condomínio fechado, o atleta não tem 'anticorpos' para enfrentar
as dificuldades que a vida adulta impõe. Seja a marcação forte e
organizada dos zagueiros ou as cobranças e broncas de um chefe.
Logo que começou a despontar, a joia santista mostrou que tem
problemas com hierarquia no já histórico 'piti' que resultou na demissão
de Dorival Jr. do comando do Peixe. Muricy é muito mais habilidoso em
lidar com o ego do atacante e não tem problemas com isso. No entanto, ao
invés do destempero de antes, Neymar optou por enxergar só o que lhe
convir.
O leitor mais atento pode lembrar das declarações do atacante após a
goleada imposta pelo Barcelona na final do Mundial de Clubes. "Hoje
nos aprendemos a jogar futebol", disse ele. Fica clara impressão que
Neymar só admite a superioridade de quem admira. De quem ele costuma
escolher para jogar no time dele no videogame.
Aqui no Brasil ele está acostumado e exige ser tratado como rei. Não é
culpado por isso, afinal é incensado por técnicos, cartolas e boa parte
da mídia especializada. Natural que se sinta no direito de escolher a
realidade que bem entender e que seja a mais confortável para si.
Quando enfrenta um sistema defensivo sólido (seja pelo Santos ou pela
seleção brasileira) Neymar mostra grandes dificuldades. Fica irritadiço
e prefere o caminho fácil de cavar faltas do que o de tentar se livrar
do seu marcador jogando futebol. Messi, por exemplo, teve o começo de
carreira muito semelhante a Neymar, mas encara as dificuldades do jogo
de modo muito mais maduro.
Que Neymar é craque é um fato consumado. Atual campeão da
Libertadores, ele é o jogador que resume atualmente o que de melhor
existe no futebol brasileiro. Isso dentro de campo. Fora dele é um
jovem. Um típico representante de uma geração individualista e que está
acostumada a ter tudo que quer.
No coquetel que resulta em um atleta de alto rendimento que faz
história é fundamental uma 'dose' de frustração. Costumo dizer que
derrotas ajudam a forjar os vencedores. Espero para o bem de Neymar —e
porque não do futebol brasileiro—que ele amadureça e aproveite as lições
que só as derrotas têm a oferecer. Agir como o dono da bola no seu
quintal não faz ninguém crescer.
Fonte: Yahoo Esportes