sexta-feira, 15 de junho de 2012

Neymar encara o futebol brasileiro como seu quintal

Noite de quarta-feira  e de duelo decisivo na Libertadores. O Corinthians joga melhor e bate o Peixe em plena Vila Belmiro por 1 a 0. Neymar é questionado por um repórter ainda na beira do gramado sobre o jogo e me sai com essa: 'pelo que eu entendo de futebol, só jogou um time o jogo inteiro. O Emerson acertou um belo chute e fez o gol do jogo'.
Mais do que pouco poder de leitura sobre o que foi a partida, o craque do Peixe dá sinais da típica arrogância de quem sempre teve tudo que quis.  Ao contrário do arquétipo do jogador pobre que consegue subir na vida graças ao esporte, Neymar sempre teve uma situação bem confortável por conta do seu talento natural para o futebol.
Ele sempre foi criado para ser a joia do time do Santos. O que de fato é. Contudo, tanto zelo fez de Neymar alguém que vive uma realidade paralela que lhe é sempre favorável. Como um adolescente mimado criado em um condomínio fechado, o atleta não tem 'anticorpos' para enfrentar as dificuldades que a vida adulta impõe.  Seja a marcação forte e organizada dos zagueiros ou as cobranças e broncas de um chefe.
Logo que começou a despontar, a joia santista mostrou que tem problemas com hierarquia no já histórico 'piti' que resultou na demissão de Dorival Jr. do comando do Peixe. Muricy é muito mais habilidoso em lidar com o ego do atacante e não tem problemas com isso. No entanto, ao invés do destempero de antes, Neymar optou por enxergar só o que lhe convir.
O leitor mais atento pode lembrar das declarações do atacante após a goleada  imposta pelo Barcelona na final do Mundial de Clubes.  "Hoje nos aprendemos a jogar futebol", disse ele.  Fica clara impressão que Neymar só admite a superioridade de quem admira. De quem ele costuma escolher para jogar no time dele no videogame.
Aqui no Brasil ele está acostumado e exige ser tratado como rei. Não é culpado por isso, afinal é incensado por técnicos, cartolas e boa parte da mídia especializada. Natural que se sinta no direito de escolher a realidade que bem entender e que seja a mais confortável para si.
Quando enfrenta um sistema defensivo sólido (seja pelo Santos ou pela seleção brasileira) Neymar mostra grandes dificuldades. Fica irritadiço e prefere o caminho fácil de cavar faltas do que o de tentar se livrar do seu marcador jogando futebol. Messi, por exemplo, teve o começo de carreira muito semelhante a Neymar, mas encara as dificuldades do jogo de modo muito mais maduro.
Que Neymar é craque é um fato consumado. Atual campeão da Libertadores,  ele é o jogador que resume atualmente o que de melhor existe no futebol brasileiro. Isso dentro de campo. Fora dele é um jovem. Um típico representante de uma geração individualista e que está acostumada a ter tudo que quer.
No coquetel que resulta em um atleta de alto rendimento que faz história é fundamental uma 'dose' de frustração. Costumo dizer que derrotas ajudam a forjar os vencedores. Espero para o bem de Neymar —e porque não do futebol brasileiro—que ele amadureça e aproveite as lições que só as derrotas têm a oferecer.  Agir como o dono da bola no seu quintal não faz ninguém crescer.
Fonte: Yahoo Esportes