quinta-feira, 29 de abril de 2010

No Brasil, Chávez defende possibilidade de reeleição ilimitada

O presidente da Venezuela, Hugo Chávez, se atrapalhou nesta quarta para responder a jornalistas brasileiros quando ele pretende sair do governo e entregar o cargo a um sucessor e acabou dizendo que não sabe, porque não há nada previsto na Constituição venezuelana --mudada por sua orientação para permitir mandatos infinitos ao presidente.

"Quando vou entregar a meu sucessor? Não está previsto. Não tenho sucessor neste momento à vista. Não está prevista sucessão no curto prazo na Venezuela. Não está prevista na Constituição. Por quê? Porque é a vontade do povo. Quando vou entregar? Não sei", disse ele, sob risos disfarçados do presidente Luiz Inácio Lula da Silva e de ministros e assessores brasileiros, no Itamaraty.
Chávez voltou a se defender lembrando que já passou por várias eleições e consultas populares: "Me chamam de ditador, de tirano, mas fizemos 11 eleições em 10 anos e estamos nos preparando para a 12ª em setembro", disse ele. O venezuelano comparou: "A Espanha é governada por um rei vitalício e um primeiro-ministro que pode se reeleger quantas vezes o povo queira". Segundo ele, "temos de respeitar o princípio da soberania popular e dos Estados e a particularidade de cada país".
Na sua vez de falar sobre democracia, Lula fez ataques indiretos à política externa de seu antecessor Fernando Henrique Cardoso (PSDB), mas acabou por cometer uma gafe. "Nós somos um país com uma democracia muito nova, muito incipiente, e a história do nosso continente é uma história de golpes e contragolpes, de pessoas que em nome não sei de quem se achavam no direito de tirar os eleitos democraticamente do poder para governar", disse ele.
A biografia de Chávez registra que em 92, quando era tenente-coronel da ativa do Exército, ele tentou um golpe contra o governo do presidente Carlos Andrés Perez. A aventura fracassou e ele foi preso.
Lula fez elogios ao presidente da Bolívia, Evo Morales, e criticou o novo governo eleito de Honduras, depois do golpe de Estado que derrubou o presidente Manuel Zelaya. "Não tem nada para mim mais gratificante do que a eleição de um Evo Morales na Bolívia. Aliás, se nós tivéssemos que escolher um personagem que está personificado [sic] no seu povo, é a cara do Evo Morales", disse.
Como contraponto, atacou: "É engraçado, porque em Honduras aconteceu uma coisa fantástica: o novo governo anistiou os militares, mas não anistiou o presidente deposto. Então é uma coisa que o multilateralismo vai ter que ajudar a encontrar uma solução".
Os discursos e as entrevistas foram no Itamaraty, a apenas alguns metros do Supremo Tribunal Federal, onde os ministros começaram a decidir nesta quarta se a Lei da Anistia abrange ou não os torturadores da ditadura militar brasileira (1964-1985).
Fonte: Folha Online