sábado, 23 de julho de 2011

Um partido para roubar


Jornalista Sebastião Nery
Gilberto Amado, gênio de Sergipe e da literatura brasileira, deputado federal de 1915 a 1926 e senador de 1927 a 1930, em 1934 queria ser governador de seu Estado. Já escritor famoso, glória e honra de sua gente, decidiu governá-la. Como a eleição era indireta pela Assembléia e comandada pelo Governo Federal, foi a Getúlio, que era seu amigo e fã :
- Presidente, quero ser governador de Sergipe.
- Por que, Gilberto?
- Porque quero. É a hora.
- Mas, Gilberto, você um homem tão grande ser governador de um Estado tão pequeno?
- Quero dirigir minha tribo. Isto é fundamental para minha vida.
- Ora, Gilberto, conheço você muito bem. Esta não é a verdadeira razão. Não pode ser. Governar só por governar, isso não existe para um homem de seu tamanho, da sua grandeza.
GILBERTO AMADO
Gilberto Amado sentiu que era preciso apelar. Apelou:
- Pois o senhor quer que eu diga mesmo? Quero ser governador para roubar. Roubar, roubar, roubar, do primeiro ao último dia. Roubar desesperadamente.
Getúlio ficou perplexo. Gilberto já estava de pé, andando de um lado para o outro, as mãos para o alto, os olhos incendiados:
- Isto mesmo, Presidente. Roubar, roubar, roubar!
Gilberto Amado não ganhou Sergipe. Mas Getúlio ficou tão encantado com a explosão tão grande de sua ambição tão pequena, que o nomeou consultor jurídico do Itamaraty em 1935 e em 1936 embaixador no Chile. Depois, embaixador em Roma e representante permanente do Brasil na ONU, até 1952. Tudo que ele quis.
LULA E DILMA
Na campanha presidencial de 2002, Lula ficou tão agradecido ao PL (que depois virou PR) por lhe haver indicado o saudoso José Alencar para vice-presidente, que, alem de mandar José Dirceu começar o Mensalão comprando o dono do PR, Waldemar Costa Neto, por R$20 milhões, ainda entregou ao partido o Ministério dos Transportes com seus bilhões de verbas para estradas e todo tipo de obras rodoviárias e ferroviarias.
O primeiro ato do PR no ministério foi errar de letras : em vez de PR Partido da Republica, decidiu que PR era Partido do Roubo. E armaram um esquema de corrupção aparentemente indestrutível, que passou intocável os 8 anos dos dois governos de Lula e começou o governo de Dilma.
PAGOT
Mas Dilma não é Lula, o incansavel protetor dos corruptos, que ameaçou o Supremo Tribunal Federal de percorrer o pais inteiro para “provar que o processo do Mensalão é uma farsa”. Dilma começou demitindo o ministro, que veio dos governos Lula e foi imposto a ela por Lula. Atrás dele já demitiu mais 14. E há outros para os próximos dias.
E cada dia novos escândalos vão se multiplicando. No começo, a gloriosa “grande imprensa” veio denunciando com cuidados, em manchetes de pelica. Agora, não deu mais para segurar: haja corrupção!
- “O diretor-geral do Dnit, Luis Antonio Pagot (que fugiu de férias para não ser demitido mas vai ser quando voltar) está construindo uma casa de três pavimentos e 615 m2 em Cuiabá. Corretores ouvidos pelo Globo avaliam que, depois de pronta, poderá custar mais de R$1,5 milhão”.
JUQUINHA
O “Jornal Nacional” mostrou que o terceiro do PR demitido por Dilma, José Francisco das Neves, o Juquinha, diretor-presidente da Valec (estatal ferroviária) desde o primeiro governo Lula, comprou tres enormes fazendas em Goiás, pagas com 13 milhões levadas por ele em malas.
Em editorial, o “Globo” definiu muito bem :
- “O ministério se transformou no balcão de negócios do PR”.
E os bigodes imortais do Merval Pereira explodiram :
- “É um desfile de desfaçatez”.
Na “Folha”, a serena e lúcida Eliane Cantanhede foi ao fundo:
- “Isso só pôde ocorrer em tal dimensão, à luz do dia, durante tantos anos e favorecendo tanta gente, por causa de duas palavras malditas : facilidade e impunidade”.
Eliane, houve mais duas palavras : proteção e cobertura. De Lula.
SENADO
O Senado está descendo a tal nível de insignificancia que o senador Eliseu Rezende, de Minas, morreu há meses e a “Folha” só chama seu suplente de “deputado (sic) Clesio Andrade, do PR de Minas Gerais”.