segunda-feira, 15 de agosto de 2011

Crise na segurança levanta reflexão sobre papel da polícia

Contrariando a letra da música dos Titãs ("Polícia para quem precisa de polícia"), a sociedade precisa de polícia. Polícia nas ruas, garantindo a segurança do público e do privado, inibindo a ação do crime. A Polícia é uma instituição necessária à ordem. Sem a polícia, a sociedade se vê ameaçada em um dos seus direitos mais sagrados - a liberdade de ir e vir - e em sua própria integridade física. Sem polícia nas ruas, o caos pode se instalar.
A crise por que passa a questão da segurança pública no Piauí leva a reflexões sobre o papel da Polícia e sobre a responsabilidade do Estado de prover a sociedade da segurança que ela, sociedade, precisa. No início da semana passada, a Polícia Militar e os Bombeiros Militares lançaram o movimento "Polícia Legal, Tolerância Zero". Deixaram as ruas, largaram suas funções em protesto à falta de negociações com o Governo e de equipamentos de trabalho. Reivindicam reajuste salarial e melhores condições de trabalho.
O governo diz que os militares já ganharam 11% de aumento este ano. Que está preparando mensagem a ser encaminhada à Assembleia Legislativa propondo ganhos para a categoria. Que não vai sentar à mesa com os policiais em greve. Pediu a ilegalidade da greve, atendida em despacho do desembargador Luiz Gonzaga Brandão de Carvalho. Solicitou homens da Força de Segurança Nacional ao Ministério da Justiça. Cerca de 120 homens chegaram a Teresina na noite de sábado e madrugada de ontem.
Vão fazer o quê, 120 homens? Policiar algumas ruas da capital enquanto o conflito se mantém. Nas circunstâncias atuais, a Força e Segurança Nacional serve muito mais para dar uma falsa impressão de tranqüilidade, ou para intimidar os militares em seu movimento de revolta, do que efetivamente para dar segurança à cidade.
O governo precisa refletir sobre as ações e medidas a adotar em relação ao movimento. Não basta apenas dizer que não vai negociar com grevistas, convocar homens da Força Nacional, pedir ilegalidade da greve. Mesmo se isso aí tudo resolvesse o problema (o que, evidentemente, não vai acontecer), mesmo assim o sentimento de revolta, de indignação e de rebeldia continuaria no seio policial, podendo eclodir a qualquer momento em atos de indisciplina e de insubordinação no trabalho.
O governo precisa conduzir, com sabedoria, a busca de solução para a crise na Polícia Militar; o comando de greve, por sua vez, precisa entender os limites do movimento. Polícia não é só para quem precisa de polícia (na assertiva dos Titãs, os bandidos e criminosos); Polícia é, sobretudo, para a sociedade.

Por Zozimo Tavares