domingo, 21 de agosto de 2011

crítico 'mete bronca' em filme que tem cenas em São Raimundo Nonato (PI)

Retorno ao misticismo em filme pouco original
Após viver uma astróloga radialista no drama O Signo da Cidade (2007), Bruna Lombardi continua na trilha do misticismo na comédia Onde Está a Felicidade? . Ela é Teodora, apresentadora de um programa de receitas afrodisíacas que busca a redenção fazendo o Caminho de Santiago, meca dos esotéricos do Ocidente.
O roteiro, assinado pela própria Bruna Lombardi, não prima pela originalidade. De uma hora para outra, Teodora perde o emprego e descobre que Nando (Bruno Garcia), o marido, a "trai" pela internet. Seu mundo desaba e, aconselhada pela maquiadora Aura (María Pujalte), decide fazer a pé os 800 quilômetros do caminho.

Viaja à Espanha com Zeca (Marcello Airoldi), diretor de seu programa, também demitido. Ele acredita que a perambulação, termo mais adequado que peregrinação, pode virar um novo programa. Na Espanha, os dois se juntam a Milena (Marta Larralde), sobrinha de Aura, e começam a caminhada. Nando sofre com a situação, mesmo consolado pelos colegas de trabalho - jornalistas esportivos pintados com as cores berrantes da caricatura machista.
Se os personagens são clichês, a direção de arte também não tem fôlego, apesar de bem cuidada: imita descaradamente as cores fortes dos figurinos e cenários dos primeiros filmes de Almodóvar. Aura, não por acaso vivida por uma atriz espanhola, é a personagem que mais se aproxima do universo almodovariano. Mas o humor - escrachado e muitas vezes chulo - fica a léguas do registro transgressivo do cineasta.
A situação desanda de vez durante a perambulação. Teodora e Milena são duas patricinhas de salto alto e roupas espalhafatosas, algo tão fora de contexto que não chega a ter graça. As confusões em que se metem giram em falso, pois se sucedem de maneira previsível. Muito melhor seria uma comédia sobre o esoterismo de pacotilha que nos rodeia, em vez de usá-lo como pretexto para uma comédia que oscila entre a Sessão da Tarde e Os Normais . Mas talvez nada supere em artificialismo a inclusão do Piauí na parte final, por razões de patrocínio.
Alexandre Agabiti Fernandez