quinta-feira, 23 de fevereiro de 2012

A história não permitirá mais que o PT rechace "ricos sem ideologia"

Ex-carteiro dos Correios que suou a camisa durante muito tempo na zona norte de Teresina, o deputado João de Deus, um petista da gema que se tornou professor e comandou a sua categoria rumo a melhores condições de trabalho, dirigiu um seguro petardo na direção do PTB, um partido que, na sua opinião, é formado por gente muito rica e sem conteúdo ideológico. João de Deus pode até ter razão, mas suas declarações seriam bem mais autênticas se tivesse aproveitado para fazer uma "mea culpa": hoje, infelizmente, o PT não é exatamente um partido ideológico voltado exclusivamente para os interesses dos mais humildes.
Certamente, não foi pensando "no interesse dos mais humildes" que o combativo PT se aliou, no Maranhão, por exemplo, com o "ideólogo" José Sarney, deixando para trás uma parceria de lutas com o guerreiro Jakson Lago, decepcionando um histórico aliado que por muitas vezes expôs a própria vida para enfrentar a mão de ferro do regime militar instalado em 1964.
O deputado João de Deus pode e deve fazer suas restrições ao PTB sob o ponto de vista do compromisso popular, mas, antes de avançar sobre as praças e ruas com esse brado encantador que cai muito bem num político de luta, precisa soltá-lo com bem força nos congressos, seminários e encontros do seu PT cujo" compromisso incondicional com os mais pobres" permitiu que se aliasse a figuras "progressistas" como Paulo Maluf, Sandro Mabel, Severino Cavalcante, Vademar da Costa Neto, para não falar em signatários do AI-5 como Delfim Neto e outros menos votados.
Os mais experientes dirigentes de futebol sempre se negaram a escalar reservas, mesmo nos amistosos, contra rivais antigos por um motivo muito simples: a derrota entra para a história e lá na frente, quando alguém lembrar que o seu time levou uma goleada no ano tal do seu adversário mais odiado, não vai dar para explicar que a formação perdedora era de reservas.
Da mesma forma é na política: quando uma agremiação partidária como o PT, que construiu com lutas, sangue e coragem a reputação de legítima representante dos interesses dos mais humildes se alia, para chegar ao poder, com um Fernando Collor, para citar outro exemplo marcante, não pode mais rechaçar determinadas alianças, mesmo que as circunstâncias sejam outras.
Existe um ditado chinês que diz o seguinte: "quando o silêncio diz mais que palavras, deve-se fazer silêncio".
Na época em que, para chegar ao governo do Estado, o bravo PT aceitou a companhia dos “ricos e sem ideologia do PTB”, o nosso querido João de Deus fez silêncio.
Por Feitosa Costa